É fácil ser pessimista a respeito de tantas coisas: meio ambiente, economia, futuro da humanidade. Porém há uma área na qual a gente deposita um curioso senso de otimismo.
Acreditamos que, entre milhões de outros seres humanos por aí, um dia encontraremos aquela Pessoa Muito Especial, um ser único que se encaixa perfeitamente com o nosso jeito de ser, gostos e aspirações. Alguém que se parece com aquela peça que faltava para completar o complexo quebra-cabeça que compõe nosso eu mais íntimo. Aquele alguém que nos faz inteiros.
A gente sabe bem que não vai ser fácil de encontrar essa pessoa. Tanta gente parece legal a primeira vista, mas logo surgem os problemas: ou tem uma irmã muito chata… ou é nervosa demais… tem um terrível gosto musical, ou um papo que deixa a desejar.
É por isso que continuamos nessa busca constante, pedindo por mais espaço, querendo dar um tempo, nos divorciando, pesquisando possibilidades no mundo virtual…
Ainda que esse esforço todo atrás da Pessoa Certa possa parecer fruto da nossa natureza romântica, a verdade é que essa busca eterna não passa de uma pura recusa ao amor. Ela é a garantia de que nenhum dos nossos relacionamentos dará certo porque, no fim das contas, o segredo mais profundo do amor é que não existe Pessoa Certa.
É a insistência em achar que existe o par perfeito que está na origem da nossa raiva e intolerância, por estarmos tão furiosos pela perfeição que contratamos e nunca foi correspondida. (E dada a forma como o animal-homem é, pode ter certeza que sempre daremos um jeito de encontrar algo que não é o ideal para a gente…).
Para sermos românticos de verdade, genuinamente comprometido às exigências do amor, precisamos de uma qualidade vital que raramente é mencionada: uma dose saudável de PESSIMISMO.
Pessimismo a respeito de como será aquela pessoa – que parece ser a mais perfeita de todas – depois que você conhecê-la de verdade. Com esse pessimismo virá o perdão pela longa lista de defeitos que descobriremos mais tarde – e que irão, certamente, descobrir na gente.
Uma busca efetiva pela pessoa ideal nos empenha a descartar todos que estamos mais propensos a selecionar.
Na verdade, a pessoa ideal não é aquela que compartilha das mesmas preferências que a gente, mas sim aquela que sabe negociar essas diferentes preferências de forma sábia e inteligente.
Compatibilidade é uma conquista do amor; não pode ser a pré-condição dele.
Para que estejamos aptos a amar de verdade, precisamos presenciar um funeral primeiro: temos que enterrar a maioria das nossas expectativas.
Esse funeral é a coisa mais romântica que já podemos ter feito. Ele irá nos libertar e permitir que tenhamos relações satisfatórias que possam durar e prosperar.
Texto livremente traduzido e transcrito do vídeo How to Save Love with Pessimism, The School of Life.
Imagem: @love_peace_light