Carta ao mundo

Às cidades onde estive:

Têm cidades que nos energizam
Outras que nos fazem andar depressa
O melhor jeito de saber
É quando a gente regressa

Foi meu caso com Nova York: aos 19 anos, a cidade que tirou o meu fôlego; com 30, a cidade que me deixou ofegante. Nada nela mudou nesses 11 anos. Seguia sendo vibrante, barulhenta e movimentada. O efeito em mim, porém, é que foi reverso, e só me fazia ver tumulto, falta de gentileza e ausência de sossego. Nova York: bem no fundo, mesmo quando era adolescente e ficava deslumbrada com seus arranha-céus, sempre soube que aquele caos não combinava comigo.  

A culpa é todinha de Sydney, a cidade mais simpática onde já estive. A cidade onde todo mundo sorri, puxa papo e cada um dita seu próprio ritmo. Lógico que Melbourne irá discordar; a rixa entre essas duas é grande. Você é linda, Melbourne, e nem mesmo essa atmosfera cinza e carrancuda conseguem aplacar tamanha beleza. Se algum dia eu praguejei contra você, é tudo culpa do sol que custa dar as caras por aqui…

Falando em ares carrancudos, uma cidade vem à minha mente: a capital do Vietnã. Não me leve a mal, Hanoi, mas até hoje me lembro do atendente que jogou a mochila longe, bravo comigo porque não quis comprá-la. Eu sei muito pouco sobre o seu passado, mas entendo que ele deve ter deixado marcas profundas na relação de vocês com estrangeiros – principalmente os mochileiros mão-de-vaca como eu era.
 
Por outro lado, foi em Hanoi que finalmente matei a fome por comida ocidental. Graças à influência francesa no país, redescobri o prazer de um belo croissant, saboreei baguetes e saladas de frutas com leite condensado enquanto me via cercada por motocicletas e passava por açougues cheios de carne de cachorro na vitrine. Haviam sido 9 meses naquele continente, e a minha fome por uma comida familiar era imensa. Só não era maior do que o gigante asiático chinês.
 
Aaaahh…  China. Você me ensinou muito sobre essa vida viu? Foi difícil lidar com quase todos os aspectos da sua cultura, e posso listar inúmeras coisas em você que me desagradaram. Mas, quer mesmo saber? Atravessei o mundo em busca de um choque cultural, e não poderia ter escolhido destino mais certeiro. Obrigada por ter me apresentado a essa realidade tão distinta da minha e por ter feito com que eu me sentisse tão diferente e ao mesmo tempo tão igual a sua gente. Quando me perguntam de você, conto alguns desafios, mas nunca deixo de afirmar que foi uma das experiências mais enriquecedoras da minha vida. Nossos 10 meses juntos serão sempre lembrados com carinho.
 
Mas amor de verdade encontrei em Londres… Em meio há tantos pubs pra escolher, o destino quis que eu e ele nos abrigássemos da chuva naquele mesmo bar. Cada um vinha de um canto do mundo e ali, no meio do caminho, nossas almas viajantes passariam os meses seguintes juntas.
 
A Inglaterra pode ter conquistado o mundo, mas não conseguiu manter esse romance. Tomamos rumos distintos: ele, pro leste; eu, pro oeste, e longe ficamos pelos 6 anos seguintes. Finalmente, o afastamento acabou e a união foi selada no Hawaii, na viagem que foi eleita a melhor da minha vida. (Se o mérito é das paisagens ou do nosso casamento, isso não cabe ao meu julgamento.)
 
Hawaii, obrigada por abençoar essa história de amor e aventura com sua incrível vibe aloha. Londres, obrigada por proporcionar esse encontro. Você foi lembrada no casamento e eu adoraria um dia poder te agradecer pessoalmente.
 
Confesso que ainda flerto com outras cidades…
Nos últimos anos me sinto fortemente atraída pela Grécia.
Pelo que vejo no Instagram, é de uma beleza divina.
Ainda assim me questiono: será que chega aos pés de Santa Catarina?
 
Se pudesse, eu viajaria o mundo inteiro
Atrás de uma cidade
Tão linda quanto o Rio de Janeiro

Hong Kong é parecida, dizem que a Cidade do Cabo também
Mas pôr do sol igual ao de Porto Alegre,
Será que alguma outra cidade tem?

Têm cidades que nos energizam
Outras que nos fazem andar depressa
As lentes pelas quais a gente vê
É na verdade tudo que interessa

Texto: Natália Godoy – Imagem: @betusharapatusha

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