Sobre ciclos e invernos intermináveis

Nunca fui dessas pessoas que abomina inverno e ama verão, ou daquelas que praguejam contra o calor e exaltam a elegância europeia trazida pelo frio. De qualquer forma, é natural que tenhamos nossas estações favoritas, afinal elas afetam nosso humor e emoções, além de revelarem muito sobre nossas personalidades. Ao mesmo tempo em que um dia cinza é um convite prá atividades mais introspectivas e prá preencher alma, estômago e coração com uma comidinha confortável, curtir longos dias de verão ao ar livre também tem seu valor.

Embora o inverno não seja minha estação preferida, minha implicância em si não é com o frio. Nem com camada sobre camada de roupas, cachecóis e casacos sob as quais minha pele cada vez mais pálida se protege. Tampouco com a dificuldade de sair da cama todas as manhãs e a vontade de comer o dia inteiro. (Ok, há chances de que o problema seja sim o frio – mas não quero cair na fácil armadilha de culpar minhas frustrações em algo que foge totalmente ao meu controle…)

Entrando no meu quinto mês de inverno consecutivo, percebo que minha frustração é, na verdade, com uma estação que nunca termina. Assim como aquele livro que se arrasta, um filme monótono que parece não ter fim, aquela pessoa que constantemente se queixa dos mesmos problemas…

Eu canso. Canso das mesmas piadas, dos mesmos lugares, do mesmo xampu. Enjoo do par de óculos, de praticar o mesmo esporte, da minha cara sempre igual… Canso até da seleta playlist que eu mesma montei com minhas músicas favoritas. Canso das minhas próprias desculpas, e canso até de estar cansada.

Não nego que a mudança geográfica é o caminho mais fácil prá que haja essa mudança tão urgente de padrões, mas se ela não tiver as motivações certas, depois de um tempo o cansaço se aplacará novamente. Ou seja: se sair da rotina é o a solução pra esse tédio que uma hora ou outra se instaura em quase todos nós, reflito aqui que até a rotina de viagens pode cansar.

Essa inquietude não é necessariamente ruim: é ótimo buscar alternativas, absorver novas ideias, aderir a novos hábitos, mudar o corte de cabelo e até reclamar de coisas novas. O problema é quando estamos prontos pra virar a página, mas algo nos impede de encerrar esse ciclo. É o caso do semestre na faculdade que parece não ter fim, do ex que nunca sai de cena, da pessoa que revive as mesmas histórias em modo de looping eterno… E de invernos intermináveis.

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