Voltar ou ficar: a decisão mais difícil pro imigrante

A pergunta que já passou pela cabeça de 11 entre 10 brasileiros que moram no exterior (não é como viver sem coxinha), mas se vale a pena voltar pro Brasil. Eu fui e voltei algumas vezes. Tentei ficar mas parti, tentei voltar mas fiquei.

Isso quer dizer que morar aqui na Austrália, o país onde decidi estabelecer residência, é melhor do que morar no Brasil? Ná-né-ni-na não. Isso quer dizer que foi uma decisão fácil de ser tomada e da qual nunca me arrependi? Também não.

Esse texto não terá as respostas definitivas para essa questão (até porquê… tcharããm: não há!), porém muito pode ajudar nessa decisão que, como poucas outras, tem forte influência nos rumos da nossa vida.

Independente da sua decisão, você vai se arrepender

Esses dias li algo* que fez muito sentido pra mim. Dizia que, entre tantas maneiras de viver, escolhemos uma. Assim, sofremos as dores da vida eleita. Isso nos dá a impressão de que, se houvéssemos escolhido outra forma de viver, estaríamos livres dessas dores. Teríamos outros problemas, mas não aqueles que conhecemos bem – e que tanto nos afligem.

Aplicando essa lógica à minha decisão de ficar na Austrália: Ao morar fora, sofro pelos momentos que estou deixando de viver junto à família. Se estivesse no Brasil, certamente não sofreria de saudade deles. Poderia até estar lidando com outros problemas; mas teria a família por perto. E agora, pensando na companhia da minha mãe, vó, primos e irmãos enquanto estou aqui, sozinha, do outro lado do mundo, tenho a impressão de que meus problemas estariam resolvidos com a presença deles – o que não é necessariamente verdade.

Nossa memória seletiva

Não deve ser cientificamente comprovado, mas uma vez ouvi algo que dizia que, para termos coragem de seguir adiante apesar das dificuldades da vida, nossa memória tende a minimizar alguns traumas do passado e amplificar as boas lembranças. (Isso explicaria em parte porque tanta gente morre de saudade do ex – por mais traste que ele fosse.)

Da mesma forma, quem está no exterior, ao pensar na sua cidade natal, por exemplo, lembra saudoso do bar favorito, do chope gelado, dos bolinhos de bacalhau e das risadas garantidas. Essas lembranças são tão poderosas que até acabamos ignorando o trânsito infernal que enfrentávamos pra chegar no bar, o perigo na volta pra casa ou o fato de que quase sempre estávamos cansados demais prá isso.

Já quem tá no Brasil pensando em voltar a viver no exterior, tende a basear suas expectativas nos momentos divertidos que teve lá – e, novamente, corre o risco de ignorar o quanto detestava os empregos, a falta que os amigos faziam e as dificuldades por não ser um falante nativo do idioma local.

A busca constante pela falta

Se for verdade que o quê nos motiva na vida é conquistar aquilo que não temos, estamos fadados a perseguir eternamente o que nos falta. E quando finalmente suprirmos essa falta, criaremos outro objeto para ser fruto do nosso desejo.

Ou seja: ao estar aqui, queremos o que só tem lá. Uma vez lá, queremos o que tem aqui. E assim corremos o risco de nunca estar plenamente satisfeitos, porque é impossível ter tudo…

Conhecimento e (in)felicidade

Uma vez que saímos da nossa redoma e conhecemos outras maneiras de viver, descobrimos uma série de possibilidades que até então não haviam sido apresentadas. Embora seja maravilhoso tomar conhecimento dessas alternativas, isso também pode trazer muita angústia. (Um armário cheio, um cardápio extenso e as tantas opções de carreiras são provas disso.) Ao ter que tomar apenas uma decisão, não é legal pensar em tudo que deixaremos de viver… – daí a angústia.

Só não sofre dessa angústia aquele que acredita cegamente em um único caminho a seguir, em apenas uma verdade. Nesse caso, não há como sofrer pelo que se perde, afinal nem se tem consciência das renuncias.

Você pode perguntar a quantas pessoas quiser, mas ninguém te dará a resposta certa

A opinião de cada um depende das circunstâncias em que vivem e dos seus valores pessoais. Isso pode ou não estar alinhado aos seus princípios. Normalmente, é bem provável que você dê mais atenção às opiniões com as quais já concordava de antemão, como se apenas estivesse atrás de uma validação para as próprias crenças. Ouvir os outros é importante, mas mais importante mesmo é ouvir a si próprio – e é aí que reside a maior dificuldade.

Depois de morar fora, sua definição de “casa” mudará para sempre

Porque além de expandir a mente, você terá novas paixões, amizades e conhecerá outras formas de viver. E isso muda tudo…

“You will never be completely at home again, because part of your heart always will be elsewhere. That is the price you pay for the richness of loving and knowing people in more than one place.” Miriam Adeney

 

Leia também:

https://suaconterranea.com/morar-brasil-ou-exterior-7-perguntas-que-podem-ajudar-nessa-decisao/#more-963

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Texto: Natália Godoy – Imagem: Andrew Richard

*Clóvis de Barros Filho, em Felicidade ou Morte

12 comentários sobre “Voltar ou ficar: a decisão mais difícil pro imigrante

  1. Adorei Nat! muito bom mesmo. Esse lance da memória seletiva é perfeito. estou vivendo isso agora, não em relação a morar fora, mas em relação a trabalho, e é bem o que vc escreveu. Adoro teus textos ❤

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  2. Maravilha ler isso… uma vez precisei fazer uma redação para a cadeira de filosofia (???) e era a prova para finalizar a danada. “Nunca mais esqueci o tema: Por que não somos plantas e animais vivendo na paz do universo. O que nos diferencia deles?” Olhei pra isso e pensei F@#EU!!! Mas, amante das letras que sou, comecei a desenvolver meu pensamento e acabei escrevendo uma dissertação de DUAS páginas sobre sermos seres sempre em busca, sempre inquietos e sempre querendo. Seja o que for. Juro, me empolguei mto. Entreguei a prova meio envergonhada e fui embora. Tirei 10. Mas foi um dez daqueles que o professor pediu para ler a minha redação la na frente e dizendo que eu deveria seguir a carreira filosófica (Não, obrigada).
    Novamente quase dissertei duas páginas aqui nos seus comentários kkkkk mas me identifiquei demais com o parágrafo em que voce falou sobre isso. Esse livro é o que voce indicou no snap? Me passa o nome dele, please!

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    • Hahaha Nina, poderia não só seguir a carreira filosófica como tbém a de escritora/blogueira hihi! Show guria! O nome do livro é Felicidade ou Morte, me baseei muito nele pra escrever esse texto. Parece que é a transcrição de uma palestra dos autores – ou seja: se procurar no Youtube pode ser que ache 🙂 Bjos e brigada pelo textão 🙂

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  3. Renata Mariz disse:

    Nossa, que texto fantástico! Amei ler! Parabéns! 🇧🇷🇦🇺❤ já está salva na sessão leitura… um assunto recorrente na cabeça hehehe

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  4. Suellen disse:

    Muito bom o seu texto!!!! Estou lendo bastante pois me encontro nesse dilema…voltar ou não…decisão dificil!!!!
    Espero tomar a melhor e pensando no que vc falou, de qualquer jeito irei me arrepender…o que resta é me agarrar a minha escolha e fazer o melhor que eu puder com ela.
    Obrigada por compartilhar isso!
    Sucesso! =)

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  5. Sr. Abismo disse:

    É verdade, somente sentimos falta daquilo que não temos mas não é isso que eu receio. Eu receio sim de esquecer boas memórias e tenho muito medo que isso me leve ao abismo. Afinal de contas, estás longe da tua família e nem sequer os vais ver a envelhecer. Cada vez que te encontras com a tua família estão fisicamente muito diferentes e isso da cabo de mim. Natália, gostei muito do teu texto apesar de o estar a ler quase 1 ano depois 😛

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