Relacionamentos Duradouros

Ele almoçava hambúrguer, batata frita e comia o que tivesse vontade. Ela lia a tabela nutricional de tudo. Hoje a geladeira do casal está cheia de produtos orgânicos e a última vez que foram no tailandês ele quis saber com qual óleo fritavam.

Ela nunca teve afinidade com o mar. Ele ia ao trabalho de caiaque e surfava aos finais de semana. Atualmente, se o mar estiver para peixe, certeza que ela vai estar lá procurando Nemo.

Ele era generoso com dinheiro; poupava um pouco, gastava muito. Ela só gastava antes de ter uma reserva assegurada. Hoje ela entende que dinheiro é energia que deve circular. Já ele, reclama do preço da picanha.

Ela carregava experiências traumáticas de acampamento e prometera que nunca mais dormiria numa barraca. Ele comprou uma van com a qual viajaram todos os finais de semana durante 1 ano.

Café da manhã para ele é inegociável: ovos e bacon; para ela: iogurte, pães e frutas. Há alguns anos não há pão fresquinho que a faça abrir mão do omelete dele. Se há disputa entre o casal, é pelo bacon.  

Ela reclamava dos protocolos do universo corporativo, um mundo que ele respirou e viveu por mais de uma década. Ele leu o livro que ela sugeriu, tomou coragem e hoje toca o próprio negócio.

Ela amava ficar acordada até tarde, hoje às 9 horas já bocejando no sofá. Ele nunca fez questão de doces, hoje com frequência pergunta se tem sobremesa.

Continuam, ainda assim, sendo muito diferentes: ele é metódico e segue as medidas das receitas à risca, enquanto ela faz tudo no olho. No cinema, ele quer ver efeitos especiais, guerra, lutas, sangue – tudo que mais faz revirar o estômago dela. Ele joga golf, é fissurado em Fórmula 1, vira o pescocinho assistindo corridas de motos. Enquanto isso, ela assiste palestras de filosofia, tutoriais sobre brinquedos caseiros para gatos e vídeos ensinando 20 formas de amarrar uma echarpe. Os banhos dele levam 5 minutos, os dela pelo menos 25. Ele vibra com uma planilha eficiente, ama monitorar processos, estabelecer metas, cumprir prazos. Ela chora quando lê algum poema bonito, pira usando a criatividade, muda de planos em cima da hora e deixa as contas vencerem. Ele tem TOC com mensagem não lida, ela tem 3754 spans na caixa de entrada. Ela nunca lembra a senha de nada, ele insiste naquele aplicativo que salva todas num lugar só. Ela cisma em ignorá-lo. 

Ninguém muda ninguém, dizem. Mas, quando querem, as pessoas mudam a si mesmas, comprova a relação desse texto. Tudo que a transformação exige de nós é uma mente aberta e disposição para experimentar novas versões de si, não alguém nos dizendo como devemos viver.

É preciso abrir mão de algumas convicções para pode agarrar outras. Andar de mãos dadas é isso: segura daqui, aperta dali, solta acolá, até encontrar um encaixe legal. Um encaixe que ora afrouxa, ora aperta, ora parece que vai soltar de novo. Andar de mãos dadas nem sempre é perfeito e muitas vezes é até desconfortável. Mas, para que dure, é preciso andar sempre na mesma direção.

Texto e imagem: Natália Godoy

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