Visto 457 e tudo que você não precisa saber sobre ele

Queria tanto escrever um post explicativo/opinativo/elucidativo (e tantos outros ivos) sobre a extinção no visto de trabalho 457, mas mal sei pronunciar o nome do Presidente (que eu cismo em chamar de Presidente mas que aqui é Primeiro Ministro) Malcolm Turnbull e ainda estou um pouco em choque que me taxa de desemprego australiana (de 5%) seja motivo de alarde (alô Brasiiiiil!!).

A extinção/ substituição do visto de trabalho 457 tem causando o maior alvoroço entre os imigrantes, e com os brasileiros não foi diferente: tem um pessoal ameaçando fazer as malas e se fugir pro Canadá (oponentes propõem Coréia do Norte🤔), outros afirmando que é tudo culpa do Trumph/da Dilma/do Mensalão/do aquecimento global!, e tem uma galera apaziguando e sugerindo no melhor estilo Chapolin que “não criemos pânico”. Vi até um pessoal organizando matação coletiva de aula na segunda-feira, e outros organizando surra de “dislikes” na página do Facebook do Presid… Primeiro Ministro. (Apenas para constar: cada um manifesta suas dores do jeito que acha melhor, no meu caso, vai ser via textão aqui AND boicote do meu consumo de… Tim T… de Veggiemite!).

É lógico que o assunto é sério e não surpreende que cause frenesi. Embora isso não afete meus planos de ficar na Austrália, sinto preocupação genuína pelos meus conterrâneos, principalmente aqueles mais próximos e os muitos a quem eu tanto admiro e torço diante de cada conquista (cara, ser brasileiro na Austrália não é fácil e eu conheço tanta gente guerreira que eu tiro o chapéu viu – nóis sámu phoda!).

Como imigrante que com frequência se sente uma “outsider”, meio deslocada, sinto o impacto não só das vitórias mas também dos socos que leva a “minha gente”: os brasileiros, os sul-americanos, latinos, sudaneses, nepaleses, os expatriados, refugiados e todas as minorias que deixaram um passado cheio de história pra construir um futuro incerto e carregado de expectativas.

No meu último emprego, onde eu era a única estrangeira da equipe, estava reunida com meus colegas e falávamos mal do gerente (uma prática comumente exercida internacionalmente). Naquele dia porém, ao contrário deles, expus que não tinha achado nada de mais o que nosso gerente havia falado. Foi então que uma das colegas olhou pra mim e disse: “talvez por você ser de fora você não tenha conseguido ler a ironia dele ao falar tal coisa.”

A medida da Austrália, que eleva as exigências para profissionais estrangeiros conseguirem fixar residência no país, trouxe à tona a sensação que tive diante do comentário da minha colega, a de que aqui, independente do visto que possua, não estou na minha casa. Certa ou errada, a nova medida implica que devemos ser a opção considerada quando a oferta local não for capaz de suprir a demanda. É uma estratégia que países estão livres a adotar, quer você concorde ou não. Talvez agora ser apenas “phoda” não seja mais o suficiente.

Quanto ao discurso sobre a extinção/ substituição do visto, pode ser que tenha sido motivado por interesses políticos, pode ser que seja a prova de que nem todo Australiano é aquele hipster gente fina que serve café e puxa papo em Bondi beach, pode ser que seja uma solução estratégica bem embasada pra favorecer o mercado e a economia local.

Eu, aqui do alto da minha ignorância diante do cenário político-econômico australiano (e cara de pau por arriscar escrever sobre o assunto), sigo tentando compreender o impacto das mudanças.

Se me empenhar nas leituras dos tantos links compartilhados, pode ser que finalmente consiga entender direitinho o que está acontecendo. Tanto em Português quanto em Inglês, os textos contêm as informações necessárias. Por outro lado, eles muito pouco comunicam sobre o contexto e as ironias que, como bem disse a minha colega: “por ser de fora, eu não consigo ler”.

Texto: Natalia Godoy

Visto 457

Ao que tudo indica, esse aí foi o cara que introduziu o visto 457. John Howard também foi o Primeiro Ministro da Austrália de 1996 a 2007. 

 

6 comentários sobre “Visto 457 e tudo que você não precisa saber sobre ele

  1. Stheffane disse:

    Você é phoda kkkkkkkkkkkkkk e escreve lindamente bem. Parece até que eu estou conversando com você quando leio seus textos. Como sempre ótimo texto e que bom ver que um brasileiro se preocupa e vê o valor dos seus conterrâneos querendo imigrar. Vi um vídeo que sinto ânsia de vômito quando lembro. O cara mora acho que em Melbourne e só desmotiva a galera do Brasil. Tipo, pra ele tá ótimo, ele consegue tudo, mais por favor brasileiros fiquem aí. Affff pensamento pobre e mesquinho.
    Bjooooo adoro lê vc.

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    • Ahhhh se for o mesmo vídeo que eu tô pensando tá um desgosto mesmo 😦 Que bom q vc curte o blog e através dele a gente pode “conversar” 🙂 Apareça sempre minha querida, e brigada pela mensagem❤

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  2. Adoro seus textos e tô sempre por aqui. Me mudei pra Sydney há 3 meses e uma amigona das internets (Helô Righetto, não nos conhecemos pessoalmente mas somos amigonas! Haha! Vai entender!) quando soube que estava aqui me disse: você tem que conhecer a Sua Conterrânea. 🙂 Quem sabe quando terminar sua trip? Moro em Dee Why com meu marido e adoro conhecer gente! Adorei o texto. Beijo!

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    • Pô Monica que mundinho esse das internets eihn?! Sou fãnzona da Helô e do Conexão – mas tbem nunca nos encontramos. Quando eu voltar pra Sydney temos que marcar um café e mandar uma foto pra responsável pelo encontro hehe! Espero que esteja gostando de Sydney. Eu tbem morava aí nas Northern beaches 🙂 Beijão e sucesso nessa Austrália!

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  3. Pois é Nat, logo agora que eu estava para aplicar o 457 em busca da sonhada residência. Parece que estamos nadando contra a maré. Mas a gente continua tentando. 6 anos na Austrália e quando chega nossa vez ele muda tudo. Agora é esperar. Ótimo texto.

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    • Nat disse:

      Aiiii amada, vc com certeza eh uma dessas pessoas guerreiras pra quem eu tiro o chapéu. Torcendo aqui minha querida, tenhamos paciência que tudo se ajeita. Beijãozão❤

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